segunda-feira, 7 de março de 2011

Em busca do projétil

Alguns pensam que ser perito criminal é estressante. Outros, que para sê-lo há de se ter coragem e "estômago" para suportar as situações e as visões que vivenciamos. Essas pessoas estão deveras corretas. Entretanto, não é por isso que um perito criminal deixa de se divertir com os mais perversos eventos com os quais lida na rotina. Afinal, quem não se diverte com seu trabalho se cansa do que faz brevemente e esse não é o esperado daqueles que trabalham com perseverança em encontrar a verdade. Algumas das situações que acabam por nos divertir envolvem a conduta impensada, inconseqüente e inoportuna de pessoas envolvidas no episódio de interesse criminal. O relato abaixo é um exemplo disso e foi a mim encaminhado por uma perita criminal paulista:

No dia 02 de março eu estava de plantão na equipe do Núcleo de Perícias em Crimes Contra a Pessoa, atendendo às zonas norte e leste da cidade de São Paulo. Por volta das dez horas da manhã chegou um local de tentativa de homicídio por meio de arma de fogo na zona leste.

Seguimos, a fotografa e eu, para nosso local que era localizado em uma das moradias de uma favela. Ao chegarmos ao local, que encontrava-se sem preservação policial, um homem que estava na viela indicada na requisição nos disse que o local era ali mesmo, e que a vítima estava na casa de sua irmã que era próxima e foi chamá-la.

Logo apareceu uma vizinha da vítima com a chave da casa dela, onde havia acontecido o crime, e a abriu para que procedêssemos ao exame pericial. Na moradia havia diversas manchas hematóides e uma munição íntegra calibre 38 no chão. Perguntei a vizinha onde a vítima havia sido atingida e ela respondeu que o tiro havia sido no rosto. Questionei então se o projétil havia transfixado, como ela não entendeu a pergunta eu a repeti nos seguintes termos:

-A bala saiu?
-Ahh saiu sim! – Afirmou ela.

Então a fotografa e eu iniciamos uma busca pelo projétil, neste momento chegou a irmã da vítima e perguntou:

-O que vocês estão procurando?
-A “bala”. – Eu respondi.
-Mas cês não vão achar, porque a bala ta na perna dele.
-Na perna de quem?!? – Perguntei espantada.
-Na perna do filho da mãe que atirou na minha irmã.
-Como assim? – Disse a fotógrafa. Ao que a irmã da vítima respondeu:
-Ué, ela tava deitada na perna dele quando ele atirou.

Após essa frase a fotógrafa e eu caimos na risada, foi impossivel controlar os risos diante de tanta estupidez do indiciado.


4 comentários:

  1. Não consegui achar graça. Super interessante o relato, mas imaginei a mulher deitada, em carícias ou ameaçada, e de repente o disparo... enfim... Triste a agressão, mesmo com o tiro na própria coxa, provavelmente impensado.
    A violência à mulher ou à criança sempre me comovem de forma diferente.

    Lembrei de um dos últimos locais que fui no começo do carnaval, à plena luz do dia em um bairro periférico aqui de Rio Branco.

    Plantão durante o dia, geralmente trabalho apenas na elaboração dos laudos. Nesse, de forma incomum, fomos acionados por volta das 15h.

    Chegando ao local, como quase regra, isolamento totalmente falho e preservação comprometida. Para melhorar, chuva sem parar, mas diminuindo.

    Solicitei o aumento do perímetro de isolamento ao comando da PM e ouvi um uníssono Óh... da população.

    Assim que começo a ter onde trabalhar, em busca de qualquer vestígio, chega outra equipe pericial, responsável pelas Oc. de trânsito. A digna colega perita adentra o isolamento e começa os 'pitacos' de veterana.

    Aguardo a primeira respiração dela e alerto: "você está pisando no único vestígio que ainda existe". - no caso uma mancha (a 2 metros da vítima) que me dizia ali não se tratar de uma desova.

    O pior, a auxiliar de necrópsia seguiu os passos da perita veterana e pisoteou o mesmo vestígio...

    Nesse momento, diante da impossibilidade de voltar o feito, comecei a rir da ajuda que tive....rs.

    Em tempo: aqui vamos ao local de crime contra a vida: o perito, um APC (motorista) e, nem sempre, um auxiliar de necrópsia (IML).


    Paz e bem

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  2. É, nobre Thiago, a própria preservação de local de crime no Brasil é quase um piada pronta...

    Qnt ao comentário inicial, é difícil estabelecer um limiar entre o comovente e o engraçado quando se trabalha quase que esclusivamente com a desgraça alheia. O perito, com o tempo, perde um pouco da sua ternura, da emoção (negativamente cunhada) quando na presença de um cadáver ou diante de um caso lastimável da conduta humana. Mas essa é a vida. Há de existir que faça esse trabalho.

    Abç,

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  3. Eu ri também. Afinal, o clímax da situação veio, para mim, da dúvida: Será que a moça não foi atingida no rosto, mas na perna. Quando enfim descobri que tinha sido na própria perna que o cara atirou, eu não pude conter.
    Minha indignação com a inconsequência do pobre coitado!!!

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  4. furtaram a chave da minha casa e depois de um dia eu a encontrei jogada em um mato mas eu botei as mão na hora de pegala sem nem uma proteção sera ke eu consigo ke a pericia me fala de kem é a digital.??

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