quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Teste de Sangue Humano e suas Limitações

Sangue. Sem dúvida um dos mais frequentes vestígios presentes em locais de crime, especialmente crimes contra a pessoa. Pode parecer fácil apontar para um mancha vermelha e dizer se tratar de sangue. Claro, se a mancha for contígua a uma lesão aberta e hemorrágica de um cadáver, não há porque que duvidar de sua composição. Mas nem sempre é assim que encontramos manchas de sangue.

Em se tratando de uma mancha avermelhada em descontinuidade de um cadáver (como em uma faca encontrada no local de crime, mas em cômodo diferente daquele em que jazia o de cujus) há de se proceder a testes que confirmem ou não a natureza da mancha. Alguns desses testes são presuntivos e apenas apontam para a possibilidade de ser uma mancha de sangue, como é o caso dos testes baseados nos reativos de Kastle-Meyer ou de Adler. Em resultando positivo, há, ainda, de se apontar se o (possível) sangue é ou não humano. Nesta questão, alguns métodos tem sido utilizados, quase sempre tendo por base o uso de anticorpos anti-humano-específicos cujo princípio (e formato) é semelhante àqueles vendidos em farmácias como teste de gravidez .

Comercialmente, há um teste chamado Hexagon que vem sendo empregado pelas polícias norte-americanas justamente para constatar se a mancha hematóide é de sangue humano ou não. Como todo técnica, esta não está isenta de falhas e cabe àquele que a utiliza conhecer as limitações do método para interpretar os resultados adequadamente. Fiz alguns testes usando o Hexagon. Como o anticorpo utilizado era anti-hemoglobina humana, imaginei que o teste poderia resultar em falso positivo para o sangue de animais cujo hemoglobina fosse semelhante à humana. Que espécies teriam mais similaridades que os primatas? Testei sangue de macaco-prego (Cebus apella) e de macaco-aranha (Ateles paniscus) e ambos resultaram em negativo. Pensei: o teste é mesmo robusto!


Era assim que eu pensava até a última terça-feira. Estive no Acre conversando com colegas peritos criminais daquele estado. Em uma discussão sobre o assunto, o colega acreano Giulliano Scarante Cezarotto me apresentou um artigo mostrando que sangue de furão (também conhecido por ferret ou pelo nome científico de Mustela puterius fero) resultam em falso positivo para sangue humano no Hexagon! Segundo o artigo, isso provavelmente se deve à semelhança de uma pequena cadeia de aminoácidos na hemoglobina humana e do furão.

No mesmo artigo, aponta que sangue de outros primatas (como o orangotango, Pongo pygmaeus) também resultam em falsos positivos para sangue humano pelo teste... É, está na hora de eu rever meus conceitos. Em outras palavras, muitos testes hão de ser feitos ainda para entender exatamente quais são os possíveis falso positivos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

RIC: Finalmente um "RG" Federal!!!!


Em 2010 foi definida como será a nova carteira de identidade do brasileiro. Além de modificações no material e layout do documento, o Registro de Identificação Civil (RIC) ganhará tecnologias que possibilitam o seu uso inclusive na internet. A previsão do Ministério da Justiça é que 150 milhões de cartões sejam emitidos até 2020. Conheça, a seguir, detalhes do RIC:

- O cartão terá dois chips eletrônicos sobrepostos: um sem contato, que funciona a até 10 cm de uma máquina leitora. E outrocom contato, para ser introduzido em equipamentos (como já acontece com alguns cartões de crédito). O equipamento sem contato serve para capturar os dados do portador e verificar se o documento não é falso, além de agilizar procedimentos de acesso rápido. Já o chip com contato permite, além de verificar autenticidade do portador, a utilização dos certificados digitais.

- Por seguir uma padronização internacional, a nova carteira de identidade terá um prazo de validade de 20 anos e, por isso, exigirá renovações. Além disso, o cartão RIC terá a indicação das principais informações do portador em português e inglês.

- Outro item de segurança do novo cartão é um dos pontos mais vulneráveis do modelo tradicional de papel: a fotografia do cidadão. No RIC, a área destinada à foto digitalizada do portador terá uma sobreposição do fundo de segurança.

- A impressão datiloscópica do anular direito do cidadão será gravada a laser no cartão. A impressão digital também ficará armazenada no chip do RIC, para ser comparada com o uso de dispositivos eletrônicos.

Fonte: Assessoria/INI

Mais informações podem ser vistas no Vídeo do Youtube. A expectativa é que o país economize Bilhões em sonegação.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

INC recebe avaliação máxima no programa de qualidade da UNODC

Gabriele Hampel

A área de toxicologia do Setor de Perícias de Laboratório do Instituto Nacional de Criminalística (SEPLAB/INC) da Polícia Federal participa de um programa internacional de controle de qualidade da UNODC (Office on Drugs and Crime)/ONU, por meio de exercício colaborativo (Internacional Collaborative Exercises - ICE). A cada exercício, os laboratórios participantes recebem 4 amostras de urina humana liofilizadas, com o objetivo de realizar as análises toxicológicas, identificando as possíveis substâncias proscritas e/ou controladas presentes. Os procedimentos
relacionados ao tratamento das amostras (metodologias de extração, concentração e derivatização), as análises de triagem e os exames confirmatórios empregados são descritos em formulário e, juntamente com os resultados, são enviados via online ao portal do ICE-UNODC, o qual nos emite um relatório de avaliação (disponíveis em http://www.unodc.org/unodc/en/scientists/quality-assurance-support.html).

A área de toxicologia está em incipiente estruturação; ainda não possuindo um laboratório exclusivo para análise de traços em material biológico, com espaço físico e equipamentos próprios, o que resulta em dificuldades na realização de alguns passos da marcha analítica. Apesar da ausência de condições ideais, o último exercício (2010-2-Biological Specimens), realizado e submetido em janeiro, obteve resultado máximo na avaliação qualitativa. Foram identificadas substâncias da classe dos opiáceos, das anfetaminas, dos benzodiazepínicos e metabólitos da cocaína, referente às quatro amostras de urina enviadas. Padronizou-se a metodologia de extração em fase sólida (SPE) e adotou-se a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência acoplada à espectrometria de massas (LC-MS-TOF), como exame confirmatório. Na triagem, foi utilizada a técnica da cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS). A utilização do LC-MS-TOF mostrou-se vantajosa em relação ao GC-MS, uma vez que não requer reações de derivatização (necessárias a algumas substâncias quando analisadas por GC-MS) e apresenta maior sensibilidade para muitos dos analitos pesquisados (fato importante quando se fala em concentração na faixa de partes por bilhão).

Fonte: Informativo "DITEC Notícias" da Diretoria Técnico-Científica da Polícia Federal

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Peritos Criminais Federais lançam livro sobre Computação Forense


O livro “Desvendando a Computação Forense”, escrito pelos Peritos Criminais Federais Pedro Monteiro da Silva Eleutério e Marcio Pereira Machado, ambos do Setor Técnico-Científico do Estado de Mato Grosso do Sul (SETEC/SR/DPF/MS), acaba de ser lançado pela Novatec Editora e é uma das primeiras obras nacionais sobre o assunto.

Com uma linguagem simples, o livro apresenta uma visão geral da Computação Forense, os conceitos envolvidos, as fases dos exames, além de mostrar ferramentas e dicas importantes para superar os desafios inerentes a essa área de atuação. A obra mostra, com certo grau de detalhes, o que pode ser feito para recuperar as evidências digitais, auxiliando na solução de diversos tipos de crimes envolvendo equipamentos de informática.

Recomendado para quem está iniciando seus estudos em Computação Forense, bem como para profissionais que queiram entender os métodos e as técnicas empregadas
nesse tão importante campo de estudo, tal livro também é indicado para professores e alunos dos cursos de Computação que podem orientar/realizar pesquisas nessa área.

Por não ser demasiadamente técnica, a obra também é indicada para os aplicadores de Direito, como juízes, promotores, delegados, advogados, entre outros, uma vez que esses profissionais devem conhecer como a Computação Forense pode auxiliar na solução de diversos crimes, contribuindo para processos judiciais mais eficientes.“Desvendando a Computação Forense” também é indicado para quem pretende prestar concursos para o cargo de Perito Criminal na área de Informática, pois o livro explica bem o dia a dia desse profissional.

O site oficial do livro, onde é possível ver mais informações, é o seguinte:
http://www.novatec.com.br/livros/computacaoforense/

Fonte: Setor Técnico Científico da Polícia Federal no MS

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O sangue e a idade do desconhecido

Nem sempre a identificação é um processo fácil. Nem sempre a identidade é atingida com métodos convencionais. É nesses momentos que a identificação de caractéres genéricos ganham valor. É bem verdade que saber a estatura, a idade, a etnia ou a cor do olhos de um indivíduo não o individualiza, mas na falta de outros descritores mais específicos, é melhor conhecê-los.

A Medicina Legal (mais especificamente a antropologia física) já descreveu diversos métodos capazes de estimar algumas dessas características genéricas. Idade, sexo, estatura e etinia são as mais consagradas. Entretanto, para tais estimativas se faz necessário a avaliação de, no mínimo, uma ossada ou alguns ossos específicos. Nem sempre conta-se com uma ossada ou um osso para análise. Seria possível, então, estimar tais descritores genéricos sem um corpo?

A biologia molecular tem mostrado que sim. Essa seção das ciências biológicas ganhou notoriedade com a identificação específica a partir da análise do consagrado ácido desoxiribonucléico (DNA), mas essa abordagem só é possível quando há material genético para confronto (de um ou mais suspeitos, por exemplo). De acordo com trabalhos recentes, na ausêcia de material de confronto é possível levantar características visando uma identificação genéricas.

Há muito tempo se sabe que sexo, à exemplo, pode ser determinado geneticamente. Basta constatar a presença (ou ausência) de um cromossomos Y e tem-se uma resposta (relembrando: mulheres possuem dois cromossomos sexuais iguais - XX - homens são heterocromossômicos sexualmente - XY). A novidade agora é a possibilidade de estimar a idade a partir de manchas se sangue. Isso é o que afirma o artigo publicado no periódico Current Biology (Vol. 20, No. 22) por D. Zubakov e colaboradores.

Em artigo intitulado "Estimating human age from T-cell DNA rearrangements", os autores sinalizam a possibilidade de estimar a idade de uma pessoa a partir de células sanguíneas. Trata-se da análise de lifócitos T (ou células T), que compõe um dos tipos celulares presente no sangue. As células T desempenham um papel importante no reconhecimento de corpos estranhos, uma função que depende de uma variedade de receptores desses tipos celulares. Cada receptor corresponde a uma moléculas estranha específica (antígeno) derivada de um corpo estranho (bactérias, vírus, parasitas ou células aberrantes, tais como as células tumorais). Essa diversidade de receptores é é possível mediante um rearranjo específico do material genético das células T, um processo que produz como um subproduto pequenas moléculas circulares de DNA. O número dessas moléculas circulares de DNA (conhecidas como "TRECs sj") declina a uma taxa constante com o avançar da idade.

A abordagem permite fazer uma estimativa relativamente precisa da idade com um erro de nove anos. Parece muito, mas seria altamente precisos na colocação de pessoas desconhecidas em determinadas gerações, vez que uma geração humana abrange cerca de 20 anos.

"Os métodos moleculares convencionalmente aplicados às ciência forense só permite a identificação de pessoas já conhecidas dos órgãos de investigação, porque a abordagem é completamente comparativa", disse o Manfred Kayser, um dos autores do trabalho. "Assim, todo laboratório forense é confrontado com casos em que o perfil de DNA obtido não coincide com a de qualquer conhecido suspeito testados, nem ninguém no banco de dados de DNA criminal, e tais casos, portanto, não podiam ser resolvidos até agora. Nesses casos, espera-se que as informações genéricas estimadas ajudem a encontrar pessoas desconhecidas".

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Clipping Pericial (janeiro/2011)

Alguns acontecimentos relacionados à perícia criminal do mês de janeiro.

Equipamentos avançados são fundamentais para conseguir provas irrefutáveis contra suspeitos de delitos misteriosos, como o desaparecimento de Eliza.

Polícia Federal inaugura central com padrão internacional para produção de provas
O que parecia ser apenas ficção, típica da indústria americana de séries policiais como a CSI, começa a ganhar espaço no Brasil com a inauguração, ainda em caráter experimental, da primeira central de produção e custódia de provas do país da Polícia Federal. A unidade funciona na Superintendência Regional do Mato Grosso do Sul obedecendo rigorosos critérios internacionais de preservação de provas de olho no combate aos crimes transnacionais, como o tráfico de drogas e a aceitação das provas pelos tribunais internacionais. O local tem rigoroso controle de temperatura e umidade, e o acesso de servidores controlados. Na América Latina, o Chile saiu na frente e já obedece à padronização internacional.

De acordo com o diretor regional executivo da PF naquele estado, delegado Wallace Tarcísio Pontes, a nova forma de coleta de provas está sendo aplicada, inicialmente, em processos de tráfico de drogas. A primeira delas ocorreu a partir da apreensão de cocaína em Corumbá (MS), quando foi coletada uma pequena parte da droga em tubos criogênitos. Paralelamente, é anotada também informações como quem colheu a prova, onde foi colhida e em quais circunstâncias. O acesso ao material é controlado pelo sistema biométrico auditável, com sensores de movimento. É restrito também ao delegado do caso, a um escrivão e àquele responsável pela guarda do local, sendo que o local é dotado de câmeras de segurança de última geração com filmagem 24 horas.

Perícia Nacional ganhará um veículo científico de divulgação
Um grupo de peritos de várias unidades da federação se uniram para discutir a criação de um periódico. O nome provável será Revista Brasileira de Criminalística e reunirá artigos científicos versando sobre técnicas e métodos utilizados pela perícia nacional.