quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Óvulos turbinados e embriões de três pais



A imprensa tem noticiado o caso do Dr. Roger Abdelmassih (foto), o mais conhecido especialista em fertilização in vitro do país. O interesse criminal sobre Abdelmassih são não apenas por ter sido denunciado por abuso sexual (para não dizer estupro), mas também pela suspeita de manipulação de óvulos.

Não vou me ater às acusações sobre o Dr. Roger, mas às tais técnicas de manibulação de óvulos supostamente utilizadas em sua clínica. Uma dela é conhecida vulgarmente por "técnica do óvulo turbinado" e consiste na injeção do citoplasma de um óvulo de uma mulher mais no de uma mulher mais velha. Isso aumentaria a taxa de êxito da reprodução assistida em mulheres acima de 35 anos.

A consequência disso? Sob a óptica genética, podemos dizer que o embrião gerado por meio de um óvulo "turbinado" teria boa chance de conter material genético oriundo de três pessoas: do doador do espermatozóide, da doadora do óvulo e da doadora do citoplasma. Isso porque, na célula, o DNA se encontra majoritariamente no núcleo, mas também está presente, em menor quantidade, nas mitocôndrias, uma organela citoplasmática. Ao injetar conteúdo citoplasmático do óvulo da pessoa X no óvulo da pessoa Y, o gameta resultante terá conteúdo nuclear da pessoa Y e conteúdo mitocondrial da pessoa X.

Imaginemos como seria o processo de identificação por DNA mitocondrial (DNAm) de uma pessoa gerada a partir de um óvulo "turbinado"? Quais as implicações que essa situação geraria? Alguns podem argumentar que o DNA nuclear é mais indicado para fins de identificação. Concordo. Mas há situações em que do vestígio biológico só é viável extrair DNAm e, nesses casos, as implicações dos óvulos "turbinados" podem ser catastróficas. Talvez esse seja um dos motivos pelo qual a técnica foi proibida nos Estados Unidos em 2001.

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