segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Perícia e Academia: uma parceria promissora

Há algum tempo venho comentando com amigos e colegas dos dois mundos, o acadêmico e o pericial, sobre a necessidade de diálogo entre eles. Muito do conhecimento nascido em ambiente acadêmico é aplicável aos meios periciais. Em um giro oposto, a perícia criminal possui uma demanda infindável por novas técnicas. Traduzindo em "método científico": a perícia traria as perguntas, a academia viria com as respostas.

Cá em "terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá" essa cooperação é rara e, quando ocorre, é por iniciativa de um perito ou de um pesquisador isoladamente. O ideal seria uma parceria institucional entre os órgãos periciais e as universidades. Por que isso não ocorre? Talvez nosso problema seja histórico: órgão periciais ainda possuem conotação policial; polícia e universidade deixaram de se misturar desde a famigerada ditadura.

Mas somos brasileiros, não desistimos nunca. Exemplo disso foi a iniciativa de quatro doutorandos do Instituto de Química (IQ) da UNICAMP e quatro peritos criminais da Polícia Federal (PF). Gustavo Braga Sanvido, Renato Haddad, Ramon Sarabia Neto e Livia Eberlin, do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massa do IQ, tiveram a colaboração de Ricardo Cosso, Denison Maia, Adriano Maldener e José Jorge Zacca, peritos criminais da PF, para desenvolver uma nova técnica de detecção de cédulas falsas.

A análise tem por base a espectrometria de massa aplicada a uma superfície e foi batizada de Easy Ambient Sonicspray Ionization (EASI). Segundo o Jornal da Unicamp, "A técnica identifica, por meio de análise química, as características dos compostos presentes nas cédulas, obtendo a resposta em dez segundos. 'A cédula verdadeira tem como presença constante quatro íons, chamados de íons diagnósticos', afirmou Sanvido. Se esses íons não estiverem presentes, a cédula é falsa."



Há, ainda, outras aplicações para a nova técnica relacionadas à análise documental. O exame de superfície permite avaliar assinaturas, explorando os íons da tinta utilizada e, assim, confrontando se foram ou não realizadas por uma mesma caneta. “Existem vários fatores que podem atacar a tinta original, entre os quais o oxigênio e a luz. Mesmo que a pessoa utilize uma caneta da mesma marca, isso não garante que ficará igual. A composição do corante também é diferente e, dessa maneira, fica provado que o documento foi alterado posteriormente à assinatura”, explica Sanvido.

Este trabalho foi aceito para publicação no Journal of Forensic Science, um dos mais importantes periódicos da área pericial. Fica aqui minhas congratulações aos autores e que a parceria sirva de exemplo para futuras colaborações.

Um comentário:

  1. E a notícia caiu na mídia:

    http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/06/07/cienciaesaude,i=196376/ARMA+CONTRA+FRAUDADORES.shtml

    Saudações,

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