segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Crise de Identidade e o Transplante de Mão

Dentre os avanços que os últimos tempos têm proporcionado, aqueles relacionados à medicina estão entre os mais repercutidos. Não que novas tecnologias de outras áreas não têm sido discutidas, mas os achados na área de biológicas trazem a tona alguns limiares de conceitos enraizados há muito tempo.

A exemplo, podemos citar as repercussões no campo da ética. A simples possibilidade de se criar um clone humano já gerou um debate bastante acalourado entre os membros da "Torre de Marfim" e ou praticistas. Antes disso, a fertilização in vitro já havia provocado certo furor; da mesma forma que o descarte de óvulos fecundados e a terapia gênica.

O mais interessante nestes episódios é que as preocupações acerca da aplicação dessas novas tecnologias respingaram em áreas cuja relação com a medicina não era clara. Isso ocorreu quando os transplantes de órgãos tornou-se viável. Questionava-se a identidade daquele que recebe um órgão: é o mesmo de outrora ou novo indivíduo? Claro que, na prática, o transplante de órgãos internos não altera a identidade de um indivíduo. Mas e se esse órgão fosse essencial para um processo de identificação?

Isso aconteceu em meados de 2000, na França. O francês Denis Chatelier, então com 33 anos, foi o primeiro homem a receber o transplante duplo de mãos. Chatelier perdeu os membros durante um acidente enquanto confeccionava fogos de artifício caseiros, em 1996. Quatro anos mais tarde, se submeteu a uma cirurgia dirigida pelo Dr. Jean-Michel Dubernand, em Lyon, e recebeu as mãos de um cadáver. Após a recuperação, Denis Chatelier se emocionou ao ver pêlos e unhas voltarem a crescer e recuperou a mobilidade dos dedos.

Denis Chatelier após a cirurgia, em 2000.

O potencial é inquestionavelmente fantástico. Devolver as mãos, tão essenciais, a um amputado deveria, por si só, justificar qualquer apontamento em contrário. Entretanto, avaliando sob aspectos talvez menos ortodoxos, a identificação de um indivíduo que recebeu o transplante fica, no mínimo, comprometida. Com a popularização desse procedimento, em especial pelo sucesso das cirurgias conduzidas pelo espanhol Pedro Cavadas, mais e mais pessoas passam a ter impressões digito-papilares de outras. Em que pese a unicidade, nada mudou, vez que aquele que cedeu as mãos perdeu a condição de pessoa (são atuais cadáveres), mas e quanto aos registros civis e criminais? E se o doador tiver deixado suas impressões em um eventual local de crime?

Não tenho as respostas a essas e outras perguntas que cercam essa temática. Penso, apenas, que devemos nos atentar a questões do gênero e discutir a consequência destas tecnologias com menos paixão e mais prática.

5 comentários:

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  2. Você é no mínimo louco, tudo na sua mente é criminoso? Eu hein. Terrível sua racionalidade, o que será do mundo com pessoas como você.

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    1. Pois é, Guilherme Martins. Entendo sua opinião. Vou tentar responder sem ofende-lo:

      De mesma forma que um engenheiro de segurança do trabalho precisa antever os possíveis atos inseguros de um trabalhador para tomar medidas preventivas, um perito criminal necessita da mesma antevisão acerca das repercussões de atos humanos na esfera criminal. Talvez o senhor não esteja familiarizado com esse procedimento de trabalho, o que respeito.

      Notei que seu perfil indica que seu trabalho está relacionado a atividade militar. Imagino que, em um contexto de guerra, prever as próximas ações do inimigo seja essencial para qualquer estratégia. É o mesmo raciocínio, mas aplicado a outra atividade laboral.

      Ademais, em momento alguns disse que sou contra o transplante ou qualquer outra inovação tecnológica que melhore a vida das pessoas. Apenas propus que fossem discutidas as questões a elas circunscritas. Indago se não precisamos de critérios para avaliar as consequências de novas tecnologias. Não é preciso ser nenhum gênio para entender o problema, basta conhecer um pouco de história. Pesquise sobre a fissão nuclear, suas possibilidades e a tragédia das bombas atômicas e entenderá o raciocínio.

      Saudações.

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  3. Nem vou ler outros artigos seus. Criatividade é para cientistas.

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    1. Prezado Guilherme,

      Não é objetivo desse blog ser criativo. O espaço aqui é dedicado a discutir ciência aplicada à justiça. Esteja à vontade para expor sua opinião.

      Respeito sua decisão em deixar de ler os demais posts. Afinal, não pedi para que o fizesse. Se um dia mudar de opinião, cá estarão as postagens à disposição de que quiser.

      Saudações,

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