segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Meu celular, meu espião

O telefone celular realmente revolucionou os meio de comunicação. Dentre seu atributos, a mobilidade foi o que inicialmente fascinou os usuários. Mas o preço era astronômico em seus primeiros aos de operação. Hoje, com a socialização da telefonia móvel, qualquer um pode ter um aparelho (que muitas operadoras fornecem gratuitamente) e sair falando.

Não estamos muito longe do dia em que cada habitante deste planeta terá seu próprio aparelho. Em algumas regiões do Brasil já até passamos disso: no Distrito Federal há, em média, 1,08 celulares ativos por habitante. A ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) prevê que em apenas nove anos teremos um aparelho celular ativo para cada habitante nacional. Em outras palavras, em 2018 cada habitante da terra brasilis poderá ser vinculado a um número de telefone pessoal.

Alguns podem pensar que estou aqui a discorrer sobre o potencial de expansão do mercado de telefonia móvel como um consultor de investimentos tentando convencer um cliente a investir neste mercado. Mas certamente estão enganados. Na verdade, pensando em segurança da informação (e, porque não dizer, da privacidade), esse panorama me assusta.

As pessoas carregam seus celulares para onde quer que elas vão (seja dentro de casa, no trabalho, no carro e até mesmo no banheiro, onde alguns jogam sudoku enquanto se empenham no número dois). Imagine, agora, que cada aparelho pudesse funcionar como uma escuta. Imaginou? Isso seria o mesmo que dizer que, a partir de 2018, qualquer brasileiro poderia funcionar como uma escuta ambulante. Bastaria ter um telefone celular.

Pois bem. Agora pare de imaginar, pois essa tecnologia já existe e tem sido usada por pessoas mal intencionadas mundo a fora, especialmente em espionagem industrial. Quem afirma isso é Wilfried Hafner, presidente da Companhia SecurStar. No final de 2008, Hafner fez uma demonstração para um plateia de policiais federais, agentes da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) e funcionários do Tribunal de Contas da União. Com apenas um celular nas mãos, ele pode grampear qualquer telefone celular. Bastava possuir o número do aparelho. O meio para tal era um vírus enviado por SMS. O programa espião, chamado RexSpy, foi desenvolvido por sua empresa para mostrar a vulnerabilidade do sistema de telefonia celular. Ele afirma que versões similares do vírus circulam pela internet em comunidades de hackers, principalmente na China e Coréia do Sul.

Ao receber o SMS com o vírus, o telefone infectado sequer alerta para a chegada da mensagem. Uma vez autoinstalado no aparelho, o remetente passa a ter acesso a todos os dados do aparelho, como a agenda telefônica, mensagens de texto, fotos e vídeos. Como se não bastasse, o telefone que enviou o vírus recebe uma mensagem cada vez que o aparelho "grampeado" é utilizado, permitindo ouvir ou gravar as conversas em curso.

Percebem agora porque a expansão da telefonia móvel me assusta? O pior é pesquisar na internet e encontrar tutoriais ensinando o procedimento. Alguns sites até vendem sistemas parecidos por cerca de 250 euros (veja na página da Flexispy). Ainda não sei, pericialmente, como seria provada a utilização de um sistema desses. Talvez por algum log de instalação de programas maliciosos no aparelho. Talvez demore, mas certamente aparecerão requisições periciais pedindo "constatação de recebimento e utilização de RexSpy ou similares". Aí a chapa vai ferver.



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